Lisboa em 48 horas. O que fazer

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O dia está frio, trazendo um congelante vento atlântico. As pessoas elegantemente vestidas passam rápido pelo calçadão da Rua Augusta, ignorando o comércio que levanta suas portas. De repente, um sol glorioso se descortina, trazendo alegres cores ao casario da Baixa.

Nossas 48 horas em Lisboa começam aqui, junto ao rio Tejo, tomando o trem no Cais do Sodré, rumo a Belém. Serão dois dias mostrando a história que une portugueses e brasileiros e também as coisas que tornam única a capital de Portugal.

Dia 1

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Não há melhor forma de iniciar estes dois dias do que abastecendo o tanque e o espírito com Pastéis de Belém. A mitológica receita com massa folhada e recheio de nata foi copiada e disseminada por todo o mundo lusitano, mas não há nada como provar o original. Peça três, ou cinco, ou mais, tudo devidamente acompanhado por um fumegante café com leite. Glorioso!

Poucos passos à frente e você encontrará o templo manuelino Mosteiro dos Jerónimos, patrimônio da humanidade pela Unesco. Sua elaborada decoração, ora com motivos marinhos, ora com formas que nos remetem a pretzels e guirlandas, é a principal característica do que se tornou o estilo dominante na Lisboa do século 16. O elegante claustro, rodeado de corredores, e a silenciosa capela principal, são os elementos de destaque. Não deixe também de notar as tumbas de Vasco da Gama e Luís de Camões. Dedique pelo menos uma hora e meia percorrendo essa joia sacra lusitana.

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Mosteiro Jerónimos – Foto: maiorviagem.net

Logo em frente ao mosteiro, às margens do Tejo, está o Padrão dos Descobrimentos. Originalmente concebido para a Exposição do Mundo Português de 1940, seu traço heroico (para não dizer levemente salazarista), homenageia figuras-chave da era das navegações – gente como Pedro Álvares Cabral, Bartolomeu Dias e Fernão de Magalhães. Liderando o grupo, na proa estilizada, está o infante Dom Henrique, o Navegador. Para ter uma vista mais ampla do belo mosaico da rosa dos ventos, suba até o mirante, em seu topo. De lá também há uma vista privilegiada da ponte pênsil 25 de Abril, que dá um certo ar de San Francisco à região.

Descendo o rio, que aqui já começa a se confundir com o oceano, está a Torre de Belém. Fortificação solitária e provavelmente o mais reconhecido edifício de Portugal, já foi arsenal, prisão, biblioteca e parte do sistema defensivo da cidade. Fotos aqui são imprescindíveis.

Torre de Belém – Foto: ncultura

Volte agora para os lados da Praça do Império para checar a agenda do Centro Cultural de Belém. Os shows, concertos e mostras temporárias daqui são uma boa mostra da qualidade da cena local. Compre ingressos, anote no calendário e volte se for preciso.

Atravesse agora a rua em direção à longa fachada dos Jerónimos e conheça o Museu da Marinha. Aqui você não só encontrará uma parafernália de objetos com motivos náuticos – uniformes, instrumentos de navegação, mapas, modelos e armas –, mas também embarcações reais, como baleeiras, veleiros olímpicos e uma galeota do século 18. Destaque para o hidroavião Santa Cruz, a nave que levou Gago Coutinho e Sacadura Cabral na primeira travessia do Atlântico Sul.

Antes de voltar para o Centro, aproveite para fazer uma refeição rápida na boa cafeteria do museu.

Agora vamos do passado ao mar à Lisboa oitocentista, para uma tarde bem preguiçosa.

Em 1755 a cidade sofreu um grande terremoto, seguido por incêndios e um devastador tsunami. A tripla tragédia ceifou a vida de cerca de um terço dos lisboetas e destruiu centenas de edificações. A pronta ação de Pombal mudaria para sempre as feições da capital, com medidas que incentivaram a construção de prédios mais seguros e soluções que modernizaram a teia urbana.

Se quiser compreender um pouco desta fase da história, suba o elevador de Santa Justa para visitar um dos memoriais mais emblemáticos do período, as ruínas da Igreja e Convento do Carmo, no Bairro Alto. Alguns dos arcos ogivais de sua nave e algumas paredes ainda estão de pé, mas todo o resto sucumbiu aos tremores.

Convento do Carmo – Foto: Reprodução Google

O Bairro Alto e o Chiado são de encantador charme, então aproveite explorar suas travessas sem muito rumo, tomar um café no A Brasileira – onde está a célebre estátua de Fernando Pessoa, fazer comprinhas curiosas em lojas como A Vida Portuguesa e adquirir alguns clássicos da literatura, originais ou traduzidos para o português.

Quando a noite cair, a alma boêmia das redondezas nos levará a restaurantes e bares tradicionais como o Alfaia, fundado em 1880, a Cervejaria Trindade, igualmente aberta no século 19, o mais jovem O Barrigas ou o Bota Alta e seu maravilhoso bacalhau. Não há opções erradas, é só entrar e apreciar.

Dia 2

Nem todos os padeiros são portugueses, mas a grande maioria dos padeiros portugueses são muito bons. Cafés da manhã, em pé mesmo, junto ao balcão, escolhendo pães e doces tão desconhecidos como deliciosos são parte fundamental de uma jornada a Lisboa. Inicie assim seu dia e pegue o metrô até a estação do Oriente, projetada por Santiago Calatrava, o espanhol que está espalhando sua arquitetura funcional-espacial pelo mundo.

Estação do oriente – Foto: marinaparquedasnacoes

 

A primeira atração do dia é o Parque das Nações, palco da Expo Mundial de 1998. Você pode reservar algumas horas para explorar os amplos calçadões, o teleférico panorâmico, as inúmeras esculturas e o Pavilhão do Conhecimento. A grande atração, porém, é o bem montado Oceanário. O moderno aquário é dividido em distintos ambientes climáticos, tudo para concluir que há apenas um grande mar, imenso e interdependente. Belo passeio para toda a família.

Volte ao Centro e tome o pitoresco bonde 28. Serpenteando pelas estreitas ruas de Alfama, conforme ele vence as ladeiras você começará a vislumbrar uma bela vista do Tejo. Desça na parada Miradouro das Portas do Sol e bata um pouco mais de perna para chegar ao Castelo São Jorge.

Castelo de São Jorge – Foto: tricoatres

Devido à sua importância estratégica, o alto desta colina é permanentemente habitado há séculos. Romanos, visigodos e mouros se revezaram nas diferentes fortificações ali montadas até que os lusos a ocuparam definitivamente. Hoje, o panorama do alto de sua muralhas, por sobre um mar de telhados vermelhos, é de alegrar os olhos. Identifique as ruínas do Carmo, a ponte pênsil sobre o rio, o elevador de Santa Justa.

No caminho de volta, ladeira abaixo, faça paradas estratégicas pelas dezenas de bares, lojinhas e cafés, experimentando tentações feitas com muito açúcar e gemas de ovos (repare que pulamos o almoço). Digno de nota é o pão de folar, uma tentação hiper-calórica que leva paio, linguiça portuguesa e toucinho magro em seu recheio e bem substitui uma refeição. Um dos destaques pelo caminho, entre incontáveis fachadas de elaborado azulejo, é o Panteão Nacional. Localizado na igreja de Santa Engrácia, sob sua monumental cúpula ele guarda os túmulos de personalidades como a fadista Amália Rodrigues e o escritor Almeida Garrett. Já a Sé Catedral, um templo muito mais antigo, foi construída a mando do rei dom Afonso Henriques, em meados do século 12, poucos anos após a reconquista. Provavelmente construída sobre as fundações de uma mesquita, seu elaborado desenho mescla elementos do românico (como na fachada) e do gótico (claustro), em um traço surpreendentemente harmônico.

No fim da caminhada, aos pés da colina, você se deparará com a Praça do Rossio, oficialmente Dom Pedro IV (o galante barbudo do alto da coluna; aqui no Brasil ele costuma ser sempre retratado sobre seu cavalo, bradando com sua espada a independência do Brasil. É ele, o próprio, o nosso Dom Pedro I, travestido de rei português). Mas não se demore muito aqui. Contorne a esquina, até a Praça São Domingos, e veja uma pequena multidão batendo papo, todos com um copinho na mão. A fonte dessa beberagem é o A Ginjinha, um despretensioso balcão que vende um licorzinho maneiro feito à base de um tipo de ameixa. Simplesmente não há melhor aperitivo para começar a noite.

Panteão Nacional – Foto: Reprodução Google

Opções de boa mesa novamente é o que não faltam. No bairro da Mouraria, ao redor da Praça Martim Moniz, você encontrará algumas boas casas de cozinha cantonesa, uma clara reminiscência a Macau. Se o apetite pedir algo mais local, a escolha precisa é O Magano, que num ambiente quase familiar lhe trará o melhor da cozinha alentejana.

Para encerrar a noite, escolha uma boa casa de fado, pequenas e autênticas, como a das escadinhas do Duque, ou mais aconchegantes e profissionais, como o Clube do Fado ou a Tasca do Chico, em Alfama. Se esta não for sua praia, vá ao Lounge, Pensão do Amor ou ao Bar Incógnito, frequentado por locais, não os turistas. Afinal, todos os brasileiros – descendentes de portugueses ou não, sentem-se em casa por aqui.

 

Lisboa (e arredores) em cinco dias:

Dia 3 – pegue o trem na estação do Rossio e dedique o dia para conhecer alguns dos mais belos palácios de Portugal. Conheça na sequência Queluz – onde nasceu e morreu Dom Pedro I, o Palácio de Sintra e o exótico Palácio da Pena. Os dois últimos estão listados como Patrimônio da Humanidade.

Dia 4 – escolha dois ou três museus da cidade. Se o Calouste Gulbekian é obrigatório, o do Oriente e o da Moda também são passeios de primeira.

Dia 5 – explore os cantos de Cascais e Estoril. Ótimos restaurantes, praias bacanas e bares com mesas ao sol lhe darão pistas porque os portugueses adoram tanto o mar.

 

 

Fonte: Viagem

Foto capa: perfectportugal

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