E eu vos declaro: Marido e Marido

Quando o Europamos me convidou para colaborar com o site, como me é comum – quando diante de convites feitos por grandes amigos – disse “sim” de cara! Sentado em frente ao teclado, menos confiante e com um baita frio na barriga, pinta a dúvida: Sobre o que falar no meu primeiro post? Diante do Mac, do alto dos meus 1.93m(!), me sinto pequenininho metido num smoking branco desenhado e feito sob medida – depois de perder os 9kg que insistem em recusar o pedido de divórcio com meu corpo! Rs – por Gaultier (Spoiler: Reparem que eu já imaginei meu casamento todo e isso sem sequer ter um noivo a vista…), quase “like a virgin” (como um virgem), em frente o altar… Nada mais conveniente então do que começar falando do casamento gay! (Se vocês pudessem ver o meu sorriso de quem acabou de descobrir a pólvora)

Uma cabecinha cheia de pensamentos torpes poderia imaginar que, um país praticamente fundado por São Patrício e tantos outros missionários cristãos, que em apenas 600 anos extinguiu por completo a cultura Celta; Um país cujo o povo é conhecido no imaginário internacional como uma gente “passional, intensa, sempre pronta para briga”, pudesse ser justamente um dos últimos a apoiar a liberação do casamento entre iguais, do casamento entre gays. Só mesmo quem nunca pôs os pés na Irlanda para pensar coisa parecida, tanto que (Tapa na cara da sociedade!) no dia 23 de Maio de 2015 a Irlanda tornou-se o primeiro país no mundo a aprovar em referendo (E a voz do povo não é a voz de Deus?) o casamento gay, ação ainda mais emblemática por, 22 anos antes, a mesma Irlanda ter considerado a homossexualidade crime.

Quando o Irish Times / Ipsos MRBI Family Values ​​pesquisa perguntou às pessoas para descrever sua sexualidade, 1 em 25 – ou 4%- dos entrevistados se descreveram como gay, lésbica ou bissexual. O número real pode ser bem maior, uma vez que 10% das pessoas entrevistadas optaram por não responder à pergunta. (A margem de erro na estatística de 4% era 1,3 %). Os números podem vir como uma surpresa para alguns. O fato é que nas ruas de Dublin é bem comum ver casais gays transitando em liberdade.

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Foto: Yes e quality

No Brasil as coisas se dão… um “tantinho” (Sou brasileiro! Jamais direi um “tantão”! Rs) diferentes. Por aqui, um fenômeno curioso vem acontecendo: os gays simplesmente estão “casando no religioso” (o reconhecimento da união estável como entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecido pelo Supremo Tribunal em 2011). Na medida que cresce a homofobia e ideologias religiosas fundamentalistas no país, cresce o número de casais que simplesmente pagam o cachê de seu sacerdote de preferência, alugam um sítio ou parque e realizam sua cerimônia que, se por um lado não é “reconhecida” religiosamente, atinge o mesmo objetivo simbólico de qualquer cerimônia religiosa: A união abençoada sob os olhos do Deus de cada um.

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Foto: Reprodução Google

O último exemplo foi o casamento do humorista Paulo Gustavo com o dermatologista Thales Breta, em dezembro passado. O evento recebeu a mesma cobertura que o casamento da Preta Gil, por exemplo. E o mais interessante: A maior crítica que o casamento sofreu nas redes sociais não foram advindas da filosofia religiosa (veja bem, não que elas não tenham existido, apenas foram eclipsadas), mas dos próprios gays que se mostraram decepcionados por na hora do “e o noivo pode beijar o noivo” não ter tido beijo algum, por livre escolha do próprio casal.

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Foto: Reprodução Google

Enquanto no Brasil a Comunidade Gay continuar a acreditar que o beijo público entre iguais é o maior exercício de cidadania que podemos fazer (por aqui, por exemplo, quando homossexuais são discriminados por garçons ou donos de estabelecimentos comerciais, ao invés de um boicote público aos serviços ou um abaixo assinado para o fechamento do local, promove-se um “beijaço”! Oi?), junto aí a cada vez maior representatividade nas esferas políticas dos fundamentalistas, a legalização do casamento religioso entre iguais tardará. A questão é, no Brasil de hoje, quem se importa?

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