O passaporte português é um dos que mais portas abre no mundo sem necessidade de visto. As vantagens de Portugal estar em sexto lugar na lista dos países que têm mais facilidade em se deslocar ao estrangeiro têm que ver com o facto de a preparação das viagens ser mais fácil, rápida e económica. E tudo porque o país tem história e e boas relações diplomáticas.
O passaporte português permite viajar para 172 destinos sem visto, de acordo com o ranking da consultora Henley & Partners, que contempla 219 destinos. O país surge, assim, em sexto lugar, ao lado de outros como o Canadá ou o Luxemburgo. No topo da lista está a Alemanha (177) e, em último lugar, o Afeganistão, que só permite entrar em 25 territórios sem visto.
“Os portugueses podem cruzar 172 fronteiras sem precisar de visto e Portugal integra grupo de países com os passaportes mais poderosos”
Analisando o estudo Visa Restrictions Index 2016, o nosso passaporte surge como um dos mais poderosos a nível mundial, embora não tanto como o francês ou o espanhol, por exemplo. “Estamos inseridos num conjunto de organizações que abrem o leque de relações com muitos países e sempre tivemos muito boas relações com a maioria. Não é por acaso que conseguimos bons resultados nas eleições para organismos internacionais”, explica José Cesário, ex-secretário de Estado das Comunidades.
O passaporte português “é um dos mais procurados pelas pessoas que potencialmente podem ter acesso a ele, o que há 20 ou 30 anos não acontecia. Há muita gente de origem portuguesa que não procurava a nacionalidade e que hoje a procura porque circula livremente pela maioria dos países.” O estudo Visa Restrictions Index 2016 tem em conta os 193 Estados das Nações Unidas, bem como outros territórios como Porto Rico, Bermudas ou a Guiana Francesa, e é feito com base na IATA, a autoridade máxima da aviação civil a nível mundial. Para Seixas da Costa, antigo diplomata e secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Portugal surgir no topo do ranking está relacionado com o facto de ser “um dos países do mundo com um leque de relações diplomáticas mais alargado” e ter “embaixadores acreditados na generalidade dos países”.
Países como Portugal “são simpáticos, não causam problemas”, diz Seixas da Costa. “Não temos uma agenda de conflitualidade, o que faz que haja boa vontade por parte dos outros países. Um país que induza a imagem de ser problemático provoca reticências. Portugal não tem essa imagem.”
Outro fator que ajuda a explicar a não exigência de visto aos portugueses é a história. “Portugal foi um império e tal como outros países que o foram, casos de França, Inglaterra e Espanha, beneficiamos de um conhecimento universal”, explica Martins da Cruz, diplomata e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas no governo de Durão Barroso. Esta vantagem nos vistos, “mais do que económica, é de tempo. Conseguimos circular com maior rapidez“.
Não é por acaso, diz Martins da Cruz, que “nos anos 30, nas aventuras de Tintin, Hergé inventou o Oliveira da Figueira.” É que “em qualquer país do mundo há sempre um português.“ Curiosamente, realça o antigo ministro, Portugal precisa de visto em alguns países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Eu próprio, em 2002, numa reunião de ministros da CPLP em Coimbra propus que houvesse um sistema Schengen para a CPLP, mas não fui bem-sucedido. Na altura, quem se opôs foi Moçambique e não Angola“, afirma.
Segundo o diplomata, esta questão dos vistos está relacionada “com a política externa da União Europeia, ou com a fraca política externa da UE. Os países europeus que foram impérios têm vantagens no mundo e não se querem diluir no denominador comum da UE”. Dentro da UE, Portugal “É o país médio que tem a política externa mais universal, mesmo mais do que alguns países fundadores”.
Turismo reclama mais abertura
Para quem pondera fazer uma viagem, a necessidade de visto é um fator importante a ter em conta. “Por vezes, é mesmo determinante, devido aos custos e às dificuldades inerentes”, adianta Pedro Costa Ferreira, presidente das Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT). Por isso, “Portugal não está numa má posição”, uma vez que quem tem um passaporte nacional apresenta “reconhecidas facilidades.”
Mas, apesar da abertura que Portugal tem na maioria dos Estados, Pedro Costa Ferreira reclama do elevado número de países que precisam de visto para entrar em território nacional. “Portugal e o espaço Schengen têm muito para avançar na entrada de outros países. Há questões de segurança importantes, mas o trabalho tem de ser no sentido de libertar a entrada de pessoas de outros países”, diz.
Segundo o presidente da APAVT, “é mais fácil para os europeus viajarem para o todo o mundo do que as pessoas de outras regiões viajarem para a Europa”. Na Rússia, por exemplo, “pode ser preciso fazer uma viagem mais longa para obter o visto do que para viajar para a Europa. E tem custos enormes”.
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Fonte: DN Portugal