Mães pelo mundo – Aglécia – Do Brasil para Irlanda

Tomar uma decisão que pode mudar a sua vida já é uma tarefa bem difícil, agora imagina quando essa decisão afeta diretamente a vida do seu filho de apenas cinco anos de idade. O coração aperta, a cabeça fica a mil, medo, incerteza e muitas noites com insônia.

Tive a oportunidade de conhecer algumas mães que como eu optaram por mudar de país com filhos pequenos. Conversando com as minhas novas amigas, constatei que cada uma delas possuía uma razão diferente para mudar, entretanto, percebi que para as questões que envolviam os nossos filhos o sentimento era o mesmo, ou seja, mãe é tudo igual em qualquer lugar do mundo, como dizia a minha amada avó.

Leia o depoimento da Aglécia, que deixou o Brasil com a família para viver em Dublin.

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Nome: Aglécia

Filha: Sofia

Idade: 7

Local de origem: São João da Boa Vista, São Paulo, Brasil

Mudança para: Dublin, Irlanda


Quanto tempo mora em Dublin?

Moramos em Dublin há 1 ano 10 meses.

Por que da escolha?

Meu marido e eu viemos fazer nosso doutorado na Irlanda. Primeiramente procurávamos um país em que o idioma oficial fosse o inglês. Pesquisamos e descobrimos que aqui nossa área de interesse acadêmico é bem desenvolvida. Depois foi tudo dando certo para virmos para a Irlanda e aqui estamos.

Quem vive com você?

Vivo com meu marido e minha filha

Adaptar-se a um novo país foi fácil?

A decisão mais difícil foi sair do país. Um mundo de indecisões nos perseguia do momento em que acordávamos até a hora de dormir, quando era possível. Nosso maior medo era a adaptação de nossa filha por inúmeros motivos desde a família até o clima, mas o principal era a língua (ela não falava uma palavra em inglês). Decidimos sair e quando chegamos aqui e organizamos nossa vida, nossa casa, a escola da Sofia e o trabalho percebemos que a primeira a pessoa a se adaptar foi nossa filha. A partir deste momento eu me senti confortável suficiente para chamar a Irlanda de “home sweet home” e me senti em fim pertencente a este país, podendo dizer então adaptada. Assim, a adaptação não foi tão difícil quanto a decisão efetiva de sair do país, mas também não posso dizer que foi simples. Escuto histórias de pessoas que nunca se adaptam. Este não é o caso da minha família. Estamos muito felizes aqui e posso dizer que estamos adaptados. Claro que ninguém se acostuma com o frio e a chuva, por exemplo, mas os próprios irlandeses reclamam do tempo então tenho mais do que o direito de reclamar também! Encaro isso como “percalços do caminho” e não como parte da minha adaptação. Não existe lugar perfeito! Escolhi ser feliz em qualquer lugar do mundo.

O que você gosta nesse novo lar?

Gosto da qualidade de vida e tudo que ela possibilita. A educação foi o que nos trouxe para cá, não só pensando na nossa, mas principalmente na da nossa filha. Em nossa pesquisa sobre a Irlanda descobrimos que aqui a qualidade do ensino é excelente desde a educação infantil até a universidade. Outro ponto importante do nosso novo lar é a segurança. Sentir-se seguro não tem preço! É até difícil de explicar. As casas não têm muros altos, os carros não têm vidros escuros e eu uso o meu celular no ônibus todos os dias a caminho do trabalho sem medo. Ouvimos relatos de furtos, mas são esporádicos e em torno do centro da cidade. Roubos armados ou outros atos de violência contra o cidadão não são comuns. Outro ponto positivo é a disponibilidade de parques públicos para as famílias. Cada bairro tem um parque, todos os parques têm área de lazer para as crianças. São lindos, bem conservados e uma ótima opção para levar as crianças ou se exercitar. Na primavera e no verão os parques no centro da cidade recebem eventos voltados para a família e são totalmente gratuitos. Por fim, outra coisa que adoro nesse novo lar é a linda paisagem e os lugares para se passear. Estamos a 10 minutos do mar e mesmo não dando para nadar é sempre gostoso sair por trilhas, explorar os mercados locais e conhecer novos lugares. É sempre uma aventura nova a cada descoberta.

O que não gosta?

O clima é um ponto negativo. É frio, úmido e as vezes passamos alguns dias sem ver o sol. Aprendi a dar valor em um dia ensolarado! Algumas pessoas simplesmente não conseguem viver num clima assim. Eu sinto falta do sol e de um pouquinho de calor, mas o clima não afeta o meu modo de ver a Irlanda no geral.

Com quanto tempo aprendeu a língua local?

Cheguei com o inglês nível intermediário e compreender o sotaque irlandês foi muito difícil no começo. Após uma fase de adaptação dos ouvidos e do curso de inglês, comecei a ficar confortável durante uma conversa com um nativo após uns 8 meses. Meu inglês ainda tem MUITO a melhorar, mas os 8 primeiros meses foram mais delicados. Depois disso, tudo começa a fluir mais naturalmente.




Sobre os transportes públicos? Funcionam? São acessíveis financeiramente?

O transporte publico é excelente. Eu uso todos os dias para ir até o centro da cidade onde trabalho e nunca tive problemas. Aqui temos o ônibus, trem (municipal e intermunicipal) e “tran”(trem municipal). Uso o ônibus e acho excelente. É aquecido, tem Wi-fi e mesmo nos horários de pico tem acentos vagos, dificilmente lotam. O preço é salgado, mas se comparado ao valor de se usar o carro para ir ao trabalho todos os dias, o custo-benefício é muito bom para os usuários do transporte público. Com o carro tem-se o gasto com impostos e seguro (que são caros) sem contar que uma diária no estacionamento da minha universidade pode chegar a 25 euros. Transporte público tem o melhor custo beneficio para quem trabalha no centro da cidade.

Existe a necessidade de ter carro?

Não existe necessidade de carro. Moramos por 9 meses sem carro aqui e conhecemos a cidade toda usando o transporte público. Optamos pelo carro quando mudamos nossa filha de escola e como não era a escola pertencente ao nosso bairro ficou um pouco longe para ir a pé. Ainda daria para usar o ônibus, mas por conforto optamos pelo carro. Não nos arrependemos. É muito confortável ter o carro para levar nossa filha para a escola, passearmos e fazermos compras no mercado, mas a necessidade de se ter um carro em Dublin, na minha opinião, não existe.

Sobre a escola para o seu filho? Como funciona? Esta satisfeita?

A escola é publica, todas as crianças têm direito a estudar de graça na Irlanda e é de excelente qualidade. No começo do ano paga-se uma taxa simbólica de 50 euros para todo o material escolar do ano e os livros são baratos, gastei em torno de 20 euros. Todo o resto é fornecido pela escola. Nossa filha não precisa levar estojo já que o material é compartilhado pelas crianças e acho isso muito legal. Ela tem varias opções de atividades extracurriculares como teatro, música e esportes. A professora é extremamente atenciosa e muito acessível. O único ponto negativo é que a maioria das escolas ainda tem ensino religioso como parte do currículo. Este tópico está sendo muito debatido no momento e muitas escolas já estão desvinculando o ensino religioso do currículo, provavelmente em alguns anos isto será realidade em todas as escolas visto que a Irlanda hoje abriga uma diversidade cultural enorme e a religião oficial das escolas é a católica.

Sobre aluguéis? Fácil alugar? Os valores são acessíveis?

Dependendo da época do ano é muito difícil alugar. Chegamos numa época muito concorrida e com preços salgados. Nos mudamos do nosso primeiro apartamento após 7 meses morando lá e vimos uma grande variação no preço dos imóveis. Em termos de ser acessível é complicado avaliar porque depende de uma série de fatores como sua fonte de renda (se usa dinheiro vindo do Brasil ou se trabalha e ganha em euro) e sua localização (se gasta com transporte publico ou não precisa). O aluguel é a gasto mais pesado do nosso orçamento.

O que costuma fazer com seus filhos nas horas de lazer?

Os parques são as melhores opções. Cada semana tentamos ir para um diferente e assim conhecemos vários lugares. Nosso apartamento tem uma área verde muito grande também e aqui vivem muitas crianças. Elas brincam todas juntas e isto também é muito legal.

Seu filho nasceu aqui? E quanto aos cuidados de saúde para o parto? O governo oferece assistência?

Minha filha nasceu no Brasil.

Aglécia é enfermeira, faz doutorado em Dublin e mãe da princesa Sofia.

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