Enquanto eu estava desembarcando na terra dos leprechauns, uma outra pessoa já estava dizendo bye bye, mas mantinha um até breve escondido na manga.
Essa história começa com dois sentidos opostos: o primeiro está repleto de expectativas e esperança, o segundo já não possuia o o mesmo brilho, o mesmo friozinho na barriga quando nos jogamos para uma grande aventura.
Depois de mais de 1 ano de planejamento e muitas, mas muitas pesquisas, chegava a hora de conhecer aquela cidade que até então só me era familiar pelo youtube. Logo, a primeira história estava prestes a ser escrita, a minha história.
Ingressei nessa nova etapa com mais de 30, com marido e uma criança, deixando para trás o meu trabalho e uma família cheia de saudade, mas com a certeza de que precisava fazer valer a pena, na verdade, acreditava que eu faria DAR CERTO.
Enquanto isso, no vôo da KLM indo para o Brasil, um grande amigo meu que por mais de 2 anos desfrutou as maravilhas de Dublin, uma cidade linda e encantadora, escreveria uma nova história, agora a de volta para casa. Quando ele chegara no Brasil, depois de 1 mês retomando a sua vida latina, me ligou, como sempre fazíamos, mas dessa vez senti algo diferente. Quando perguntei qual era o sentimento de voltar para casa depois de ter morado mais de 2 anos na Irlanda, ele ficou por um bom tempo mudo, cheguei a pensar que poderia ser um problema com a internet, até que de repente ele começou a falar com uma voz baixa, meio perdida: “Beta, está sendo a experiência mais difícil da minha vida”.
Ele continuou e abriu seu coração dizendo que essa volta estava realmente sendo difícil, que provavelmente quem nunca passou por essa experiência jamais entenderia esse sentimento [claro que eu estava entre essas pessoas, o meu sonho estava apenas começando] e aos poucos foi abrindo seu coração e revelando seus sentimentos.
Mencionou opostos, como o estilo de vida era diferente, lembrando do momento que chegou na Irlanda e de como naquele começo a sua vida não tinha sido fácil, principalmente pela falta do inglês e à adaptação ao clima. Mas lembrou também que em algumas semanas tudo foi se encaixando, as novas amizades de várias culturas diferentes o confortaram. Tomou sua primeira pint e dali em diante nunca mais parou [calma, com moderação], além de valorizar o lado simples da vida e a sua família que tanto se esforçou para que ele pudesse ter essa oportunidade. Descobriu como era bom poder gastar tão pouco e explorar alguns países da Europa [que era uma realidade muito distante quando morava no Brasil], o medo da violência ali não existia e percebeu que era possível ver as estações do ano tão bem definidas pelas ruas da cidade.
Quando chegou no Brasil, o choque cultural foi gigantesco, me confessou que teve um sentimento estranho, como se nunca tivesse morado ali, até riu e falou em tom de brincadeira: “Cara, é impressionante como a gente perde o costume, como viramos o produto do meio.”
Seu primeiro “susto” foi a falta de costume de sentir calor, até porque o casaco já fazia parte do seu vestuário diário e na Irlanda quando se chega perto dos 20 graus, já é dia de praia, então imagina desembarcar no aeroporto do Rio de Janeiro em pleno verão carioca? Outra coisa que foi muito chocante foi a ida ao mercado, imediatamente ele lembrou da disparidade dos valores dos produtos, esse tempo fora faz com que esqueçamos de algumas coisas, disse ele se sentindo um pouco triste. Ele não parou de fazer comparações. Contou que pegou seu carro e foi em um bairro próximo para encontrar alguns amigos e que um trajeto de apenas 5km foi feito em 1 hora.
Bom, eu poderia ficar contanto todo aquele papo do Neto, mas o post ficaria muito grande, então vou resumir dizendo o que percebi.
Nós somos perfeitamente capazes de nos adaptarmos ao meio em que vivemos em diversas circunstâncias, pode variar de pessoa para pessoa e o tempo que levará. Não vou julgar o melhor ou o pior, não me sinto no direito, sei que na Europa ou no Brasil, temos a maravilhosa capacidade de começar ou recomeçar. ?
A parte boa da história é que o Neto hoje conseguiu uma vaga em uma multinacional no Rio, o inglês e a vivência na europa foi um fator de eliminação para outros candidatos que não possuíam no currículo.
Se ele vai voltar a morar em Dublin? Não sei, quem sabe? Mas uma coisa é certa, esse intercâmbio mudou a sua vida em todos os sentidos.