Por que mudei meu filho de escola em Dublin? – Sexto sentido de mãe

Toda mudança por melhor que seja gera aquele frio na espinha, acredito que por se tratar da falta da certeza do que nos espera pela frente, uma nova adaptação, momentos que podem ser vistos e vividos pela primeira vez. Mas e quando essa mudança é com o seu filho? E vamos então para mais uma saga : “Coração de mãe nunca descansa”.

Voltando no tempo

No post sobre o primeiro dia de escola do meu pequeno na Irlanda, contei um pouco sobre a experiência da mudança radical do Pedro para uma escola Irlandesa, com um cenário totalmente novo, a começar pelo idioma – do Português para o Inglês.
O primeiro dia parecia eterno, aquela angústia no peito para saber como o meu pequeno príncipe estava, mas o desfecho foi lindo e mãe é realmente um bichinho tão bobo que poderia comemorar cada conquista do filho com um bolinho. Só mãe entende…

Adaptação

A cada semana que passava ele estava mais envolvido com a escola, com sua professora (uma fofa), que tinha toda a paciência do mundo para se fazer entender a um menino que só sabia pedir para ir no banheiro (com as opções) e beber água. Aquele espaço da escola durante os intervalos já era todo explorado pelo meu pequeno em todos os cantos e a cada dia uma nova amizade. É nessas horas que respiramos fundo com aquele sentimento de dever cumprido. #sóqueaindanão

Sexto sentido

Apesar dos funcionários da escola serem muito acolhedores, gentis e profissionais comprometidos com o seu ofício, existia algo que já tinha dado o alerta ao meu sexto sentido que não estava coerente, ainda não tinha uma clareza, mas algo desconfortável existia.

Como estava recém chegada no país e para completar havia pouquíssimas referências sobre o local. A sensação de recomeço em um lugar que nunca fora pisado faz jus ao ditado: Como um peixe fora d’agua. Acredite!
Fui percebendo a cada dia que muitas situações vistas por lá não eram compatíveis com a minha realidade e com a educação que eu e meu marido estávamos empenhados a dar ao nosso filho.

Com o tempo, conhecemos outros locais em Dublin e, foi então o que nos ajudou a ter uma percepção maior, para assim me fazer entender o que de fato estava incomodando naquela região em particular. Ufa! E então me senti mais aliviada.

As gírias eram bem acentuadas, assim como a forma de se expressar e o tom [alto] de voz. Posso dizer que todas as vezes que ia buscar o meu filho, as únicas pessoas que vinham falar comigo eram estrangeiras iguais a mim, as Irlandesas se fechavam em grupinhos e olhava com desdém [Menos uma]. A primeira semana presenciei uma cena com um casal de pais dentro da escola que me arrepia só de pensar, violência em nível máximo e o pior, meu filho além de ter assistido, viu o seu amiguinho em prantos vendo sua mãe gritando e pedindo socorro. Nossa! Foram dois dias sem dormir com essa cena na cabeça.

Aos poucos fui percebendo que tais cenas faziam parte do cotidiano daquelas pessoas e daquela região em particular. Pude entender que o meu sexto sentido estava certo e não podia protelar mais em tirar meu filho de lá, mesmo tendo a certeza do amor e cuidado daqueles profissionais com ele e sabendo que era recíproco.

Vamos negociar?

Era hora de dizer para a criança tudo o que estava acontecendo naquele local, mas com uma diferença, traduzir para o “criancês”, tentamos mostrar que o novo poderia ser ainda melhor. Falamos inclusive da nossa mudança do Brasil para a Irlanda, que a descoberta o surpreendeu, mas não havia “santo”que o convencesse. Todos os argumentos foram utilizados, didática, métodos que tentamos tirar de dentro da cartola e … Nada.

Último dia

Algumas semanas anteriores, eu e meu marido avisamos a professora sobre o desligamento do pequeno daquela escola e eu via ni-ti-da-men-te naquele olhar um carinho e uma lágrima que estava prestes a cair, mas ficou engasgada. Contudo, ela não deixou a peteca cair na frente dele e disse: A escola é ótima. Pedro você vai amar :). Quando saímos da sala percebemos pelo vidro da porta ela sentada e pensativa em relação ao assunto [Que infelizmente com todo cuidado tivemos que relatar]. Claro que isso mexeu muito com a gente.

O tão ansioso último dia chegou, ao mesmo tempo que seria melhor para ele essa mudança eu não gostaria que chegasse tão rápido. Foi então que tratei de preparar uma linda despedida para aquelas pessoas que nos receberam tão bem. 🙂

Ao final da aula, Pedro recebeu um cartão gigante preenchido com as assinaturas de todos os seus amigos e ao lado com fotos de diversos momentos que havia passado naquele lugar. E para minha surpresa aquela mãe estrangeira que eu havia falado que sempre me tratava bem, veio com um presente enorme e nos entregou junto a um cartão agradecendo pela amizade do Pedro com o filho dela. Nesse momento, respirei fundo e agradeci por tudo isso que estava acontecendo conosco, ter a passagem ou quem sabe a permanência de pessoas tão queridas na nossa vida nos faz bem e nos impulsiona a seguir em frente.

Em busca da nova escola

Como aqui na Irlanda, e em grande parte da Europa, as crianças estudam [Escolas públicas] próximas as suas residências, isto é, na mesma região. Eu e meu marido tratamos logo de pesquisar as melhores escolas ao entorno e com boas pontuações. Até que nos identificamos muito com a escola de uma amiguinha brasileira do Pedro, que inclusive era mais perto de casa, tratamos imediatamente de visitar.

Pontos positivos:

A começar pela ausência de cheio de mofo [pelo clima úmido, os locais ficam propensos a ter esse probleminha], em seguida percebo pais extremamente educados, com vocabulários que não faziam parte da outra região, como um simples bom dia e até mesmo obrigado. Essas pessoas falavam baixo, não gritavam pela escola e não achavam normal “arrotar’ nos corredores para uma definição de uma boa refeição. Opa! Até agora tudo certo. Quando estava me envolvendo e identificando com aquele novo mundo fui surpreendida mais uma vez com a receptividade não só dos profissionais como dos novos pais de alunos.
E acreditem, conseguimos a última vaga! Por ser uma escola muito boa e conceituada, a disputa por vagas é realmente acirrada, mas como nunca desisto e sempre vejo o lado positivo, já podíamos comemorar.
Para que a transição fosse feita de uma forma orgânica, leve e ele não sentisse tanto, fomos aos poucos, fazíamos caminhos onde a escola estava em nossa rota e algumas pausas para conhecer o novo território antes das aulas começarem. Além de levá-lo para participar da festinha de Natal, das apresentações da best friend dele que estudava lá, apresentar a nova sala de aula, foram fatores que contribuíram muito para o processo.

Matrícula

A matrícula é bem simples, levamos um comprovante de residência, de batismo [não é obrigatório, mas será bem-vindo] e de nascimento. Aqui o trâmite dos materiais era um pouco diferente, tivemos que comprar por fora, pois os livros da escola antiga não eram compatíveis com a da nova, gastamos um total de €24, isso mesmo, vinte e quatro euros apenas. E mais uma remessa para materiais coletivos de €35 para todo o período. Também tivemos que comprar um outro uniforme com a logo da nova instituição. Depois disso só esperar pelo primeiro dia de aula. 🙂

Primeiro dia

A matrícula foi feita no final do ano, quando as crianças ainda estão em pleno ano letivo, com uma pausa entre do Natal e a primeira semana de Janeiro. Foi muito bom para nós, pois esses poucos dias seriam suficientes para o Pedro se desligar da última escola e começar seu novo ciclo.

Já no primeiro dia de aula, estava mais fácil, além dele conseguir se comunicar em inglês, agora a melhor amiga estava ali, não na mesma sala [como eles tanto queriam], mas na porta ao lado.

Quando voltou para casa, muitas eram as descobertas, [ainda mais ele sendo a novidade], todos queriam brincar com ele, faziam muitas perguntas em relação ao seu país, o que ele gostava de fazer, e aqui na Irlanda temos uma vantagem, como a grande maioria é composta de loiros com olhos azuis e ruivos, quando eles se deparam com o nosso biotipo típico brasileiro, os Irlandeses acham lindo. Pedro no seu primeiro dia amou a nova escola e quer voltar todos os dias. E o bom é que as crianças sempre nos ensinam diariamente. 🙂

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