Morar fora e a saudade

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Saudade é uma palavra que não tem o mesmo significado se traduzirmos para o inglês.

De repente é porque só mesmo o brasileiro entende e sente com intensidade e com calor o sentir falta de.

Um sentimento forte que parece chegar de uma forma avassaladora para quem mora fora.

Nunca participei de um Big Brother. Sabe aquele programa onde as pessoas são escolhidas a ficarem confinadas em uma casa e em poucos dias se tornam melhores amigas e confidentes?

E quando o dia da saída de um integrante chega, alguns se desesperam, e são consumidos por um sentimento sem tamanha explicação, a futura saudade que será sentida. Pois é, mesmo sem ter participado e não sendo fã [mas confesso que assisti algumas edições], parei para pensar e me arrisco a dizer que entendi o porquê dessa explosão de sentimentos.

Quando temos a experiência de morar fora, longe do nosso conforto, faz com que certos sentimentos até então distantes da sua realidade, sejam compreendidos.

Vou contar um pouco de quando estava recém chegada na Irlanda e conheci uma família de americanos muito especial, nos conhecemos no pátio do condomínio e percebi um comportamento mais aberto (não como os irlandeses), como piadas que faziam sentido para nós, eu e o meu marido logo pensamos: Nossa! Parecem brasileiros!

E a cada dia, cada estação que se aproximava (principalmente no inverno), nós compartilhávamos nossos medos, anseios, desafios e alegrias. Foi quando percebi que mesmo o inglês sendo a língua materna dessa família, e a Irlanda o país europeu que eles escolheram para morar, era um grande desafio fazer dar certo essa “nova vida”.

Continuando…

As nossas famílias estavam cada vez mais próximas, não necessariamente todo o final de semana ou toda semana (até porque todo mundo tem a sua vida e rotina), mas compartilhamos momentos especiais. Tivemos a oportunidade de conhecer a comunidade religiosa deles que nos abraçou de uma forma ímpar, nos acalentou e somos eternamente gratos.

Bem, hoje chegou a hora de dizer bye bye a eles, vão retornar a sua vida nos Estados Unidos, não porque o tempo planejado por eles havia chegado, mas, porque descobriram que a Irlanda mesmo sendo um país maravilhoso, estava muito distante das suas expectativas e mesmo com todos os esforços diários o Home sick (‘saudade de casa’)  fazia parte daquela família que amava seu país.

As novas experiências podem ser surpreendentes, às vezes estamos preparados para enfrentar o novo; mas às vezes não, e temos que ter a sabedoria de reconhecer e seguir em frente de volta. Mas com a certeza que tudo muda, toda bagagem como essa nos torna enriquecidos em muitos aspectos. 🙂

Hoje me senti na casa do Big Brother. O abraço foi apertado, as palavras foram doces, contudo, tive a certeza de que essa foi a primeira despedida, mas provavelmente não será a última e ao invés de colocar um ponto, uma vírgula será usada. E posso dizer, morar fora é para os fortes.

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